Exame de líquor é perigoso? Mitos e verdades sobre o exame

A punção lombar – exame de líquor, é um procedimento muito comum, realizado em hospitais e clínicas, com o objetivo de se extrair o líquido cefalorraqueano (líquor) para se fazer diagnóstico de doenças que afetam o sistema nervoso.

No entanto, alguns sentem receio de serem submetidos ao exame, por acharem, sem nenhuma razão, que a punção é realizada na medula espinhal. Há também pessoas que acreditam que, possam sentir muitas dores e desenvolver outras complicações após o procedimento.

Para desfazer esses mitos, veja a seguir com detalhes o que é o exame de líquor, como o procedimento da punção é realizado, e se há e quais os verdadeiros riscos. 

O que é líquor?

Líquor, ou líquido cefalorraqueano (LCR), é um líquido produzido nos ventrículos laterais (cavidades localizadas no interior do cérebro). Sua principal função é fornecer uma barreira mecânica e imunológica, protegendo o sistema nervoso central (SNC). 

O volume normal do líquor em um adulto é de cerca de 150 ml. Levemente alcalino, sua composição é de 99% de água, e em adultos, a sua produção é contínua e equivale a três vezes o volume total de LCR, ou seja, cerca de 450ml/24 horas.

Qual a finalidade do exame de líquor?

A análise do líquor é de fundamental importância no diagnóstico de inúmeras doenças que afetam o sistema nervoso.

Algumas doenças aumentam a pressão intracraniana, como a hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebral), uma doença neurológica que causa cefaleia (dor de cabeça) e que pode levar à perda visual, se não tratada. No momento da coleta do LCR é possível medir a pressão intracraniana e fazer o diagnóstico desta doença, permitindo o rápido início do tratamento.  

Além da mensuração da pressão intracraniana, a coleta auxilia no diagnóstico rápido através análise da aparência do LCR. Em condições normais o LCR é límpido e incolor (transparente), com aspecto de “água de rocha”. Quando apresenta-se turvo é indicativo de uma infecção (meningite)

Quando o aspecto é hemorrágico, indica uma um sangramento no SNC. Quanto está xantocrômico (coloração amarelada), sugere sangramento prévio ou um bloqueio no fluxo liquórico. 

Após a coleta, o LCR é encaminhado para o laboratório especializado para a realização de análise de diversos parâmetros (contagem e análise das células, parâmetros bioquímicos, imunológicos e moleculares). Com essa análise são obtidas informações relevantes para o diagnóstico de diversas doenças

  • Infecções:  
    • Meningites (causadas por vírus, bactérias, fungos, parasitas)
    • Encefalites (infecção do tecido cerebral, sendo também causada por inúmeros agentes infecciosos como, por exemplo, diferentes tipos de vírus)
    • Infecções da medula (mielites)
    • Neurotuberculose
    • Neurosífilis
    • Complicações infecciosas em pacientes com deficiência imunológica
    • Neurocisticercose (associada à teníase do porco)
    • Doenças neuroinfecciosas raras 
  • Doenças inflamatórias

    • Esclerose Múltipla (o LCR é exame indispensável para esse diagnóstico)
    • Outras doenças desmielinizantes do SNC como a Neuromielite Óptica e a Doença associada ao MOG)
    • Vasculites (inflamação dos vasos cerebrais)
    • Encefalites autoimunes (causadas por anticorpos que afetam o funcionamento do cérebro)
    • Neuropatias autoimunes (causadas por anticorpos que atacam os nervos periféricos)
  • Cefaleias e Doenças vasculares do SNC 
    • Hemorragia meníngea (ruptura de aneurisma cerebral)
    • Pseudotumor cerebral 
    • Exclusão de causas graves de cefaleias
  • Demências (distúrbios com perda progressiva da memória) 
    • Doença de Alzheimer
    • Causas mais raras de demências (Doença de Creutzfeldt-Jakob, uma doença rara que causa uma demência de rápida evolução)
    • Demências de causa infecciosa ou inflamatória
  • Neoplasias

    • Neoplasias hematológicas que infiltram o SNC e meninges
    • Metástases de tumores sólidos que infiltram o SNC e meninges
    • Tumores do cérebro ou da medula

É preciso fazer algum procedimento antes do exame

Não é necessário se preparar ou fazer qualquer procedimento específico antes de se submeter ao exame. Não é necessário jejum, nem tampouco evitar ingerir açúcares ou líquidos com cafeína. A assinatura de um termo de consentimento lhe será solicitada antes da realização do procedimento da punção.

Leve alguém consigo para assisti-lo antes e principalmente depois do exame, visto que você poderá sentir dores de cabeça ou tonturas. Em caso de dúvida, procure orientar-se com seu médico.

Como é feita a punção lombar

A coleta é realizada por um médico que recebe um treinamento específico para a realização deste procedimento. O paciente é colocado em posição de decúbito lateral, com os joelhos dobrados contra o peito, de acordo com a orientação do médico. Pode ser utilizado anestésico local. 

O local é identificado pelo médico com expertise na realização da punção, e, a seguir procede-se à antissepsia da área da punção. Uma vez coletado, o LCR é armazenado em tubos próprios e enviado rapidamente para análise.

O exame costuma ser dolorido?

Por ser uma região extremamente sensível e complexa, muitos sentem receio em fazer um exame de líquor temendo que isto possa causar dores e até mesmo outras complicações após a coleta.

No entanto, a punção lombar não costuma causar maior incômodo ou dor ao paciente, desde que devidamente realizada por um profissional capacitado e experiente. 

Pode ser aplicado um anestésico para aliviar o incômodo causado pela introdução da agulha na medula espinhal. Outro fator importante é que este tipo de procedimento dura apenas alguns minutos.

Existem efeitos colaterais após o procedimento?

A coleta é realizada por um médico que recebe um treinamento específico para a realização deste procedimento. Após a coleta do LCR, pode ocorrer tontura e, em alguns casos, cefaleia. O paciente deve permanecer em repouso por 24 horas após a coleta do LCR. 

A cefaleia pós punção do LCR pode ocorrer em cerca de 10-15% dos pacientes e caracteriza-se por uma dor de cabeça quando o paciente fica de pé. O uso de agulhas finas e mais modernas e o repouso após o exame reduzem o risco desta cefaleia. 

Outros incômodos que podem surgir após a coleta são: dor na região lombar, principalmente no local da punção e dores nas pernas, principalmente em crianças. 

Portanto, a coleta do LCR é bastante segura se feita de forma adequada. Considerando que o organismo produz e absorve todo o volume de LCR três vezes por dia, a quantidade retirada não causará nenhum dano no cérebro e medula. 

Não há nenhum risco da agulha lesar a medula, pois, a medula não tem relação anatômica com o local da punção (a medula termina e a primeira e segunda vértebras lombares e a punção é feita em geral entre a terceira e a quarta). 

Qual o risco de se realizar o exame de líquor?

A coleta do LCR é bastante segura, se feita de forma adequada. Considerando que o organismo produz e absorve todo o volume de LCR três vezes por dia, a quantidade retirada não causará nenhum dano no cérebro e medula. Não há nenhum risco da agulha lesar a medula, pois, a medula não tem relação anatômica com o local da punção (a medula termina e a primeira e segunda vértebras lombares e a punção é feita em geral entre a terceira e a quarta). 

É importante que o médico avalie, antes da punção, se há alguma contraindicação. A punção lombar não deve ser realizada nas seguintes situações:

  •       Hipertensão intracraniana
  •       Lesão ou infecção no local onde será realizada a punção
  •       Redução das plaquetas e outros distúrbios da coagulação
  •       Uso de certos medicamentos anticoagulantes (nesse caso deve ser avaliado qual o medicamento em uso e seguir protocolo específico para cada uma destas medicações). 

Em caso de dúvida converse com seu médico e siga as suas orientações.