As drogas modificadoras da doença (DMDs) são a base do tratamento da Esclerose Múltipla (EM). O tratamento precoce deve ser iniciado após o estabelecimento do diagnóstico, com o objetivo de reduzir a atividade da doença, prevenir novas lesões e novos sintomas e retardar a evolução para formas progressivas, possibilitando a manutenção, por um tempo prolongado, da funcionalidade dos pacientes.
Nos últimos anos, houve uma mudança considerável do cenário terapêutico em relação às DMDs, especialmente em função da introdução de medicamentos de maior eficácia. Com isso, passamos a ter mais opções para formas altamente ativas da doença, bem como para as formas progressivas, até então não contempladas com DMDs aprovadas.
Até recentemente, a única opção de alta eficácia disponível era o natalizumabe, medicação bastante efetiva, mas que apresenta como fator limitante a Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva (LEMP), como complicação da infecção pelo vírus JC.
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O quadro abaixo lista algumas das características destas novas medicações de alta eficácia introduzidas nos últimos anos:
Medicação | Características | Potenciais efeitos adversos |
Alemtuzumabe | -Atua sobre o receptor CD52 de linfócitos B e T (células da imunidade inata expressam em menor quantidade esses receptores).
-Avaliado em comparação com a betainterferona 1a SC 44 μg (CARE MS), mostrando redução significativa da taxa de surtos, menor acúmulo de incapacidade e menor aparecimento de lesões na ressonância. -Usado na forma remitente-recorrente, com dose de 12 mg/dia por 5 dias, repetindo-se, após 1 ano, 12 mg/dia por 3 dias. -Aprovado no Brasil, em fase de incorporação ao rol da ANS, ainda não incorporada ao SUS. |
-Reações infusionais, minimizadas com pré-medicação (solumedrol).
-Infecções: VZV 16 a 18% (profilaxia com aciclovir e vacina). Outras infecções. -Autoimunidade: hipotiroidismo (16 a 18%), PTI (1%) e proteinúria.
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Ocrelizumabe | -Age no receptor CD20 de linfócitos B.
-Avaliado no estudo ORATORIO para a forma progressiva primária, mostrando redução da progressão do EDSS e do acúmulo lesional na RM. -Avaliado para formas remitentes em dois trials, OPERA I e II, com bons resultados. -Administrado na dose de 600 mg IV a cada 6 meses -Aprovado no Brasil, em fase de incorporação ao rol da ANS, ainda não incorporado ao SUS. |
-Medicação com boa tolerabilidade.
-Pequeno aumento do risco de neoplasias no grupo que recebeu a medicação. -Risco muito baixo de infecções oportunistas. |
Cladribina | -Atua sobre vários subtipos de linfócitos.
-Avaliada pelo trial CLARITY mostrando desfechos favoráveis. -Usada por via oral em dois ciclos de 1,75 mg/Kg (5 dias), com 4 semanas de diferença. Após um ano: repetir o mesmo esquema de dois ciclos. -Aprovada pelo FDA para EMRR e EMSP. -Aprovada no Brasil, em fase de incorporação ao rol da ANS, ainda não incorporada ao SUS. |
Infecções
Cefaleia Linfocitopenia Neoplasias Risco para gestação – até 6 meses após a última dose.
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Siponimode | -Assim como o fingolimode, é um modulador de S1P, mas com ação mais específica sobre S1P1 e S1P5.
-Avaliado e demonstrado eficaz tanto para a EMRR quanto para a EMSP. -Usado por via oral, inicialmente na dose de 0,25 mg, podendo chegar a 2 mg/dia, a depender do ECG. -Aprovado pelo FDA para EMRR e EMSP. -Aprovado no Brasil, ainda não disponível. |
Cefaleia
Hipertensão Aumento de transaminases Linfopenia (20-30%) Edema macular Bradiarritmia PRES Contraindicado para pacientes com o genótipo CYP2C9*3/*3 e pacientes com IAM, angina instável, AVC e AIT, ICC, BAV tipo 2 e 3.
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Além desses, outros medicamentos ainda não estão disponíveis no Brasil, mas já estão aprovados em outros países:
- Ozanimode, droga oral, modulador de S1P, para a EMRR;
- Ofatumabe, via subcutânea, inibidor de CD20, para EMRR, CIS e EMSP ativa.
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Outras medicações encontram-se em estudo, para formas recorrentes e progressivas, além de drogas reparadoras da mielina, sendo aguardados os resultados e aprovações nos próximos anos. Novas tecnologias, como a inoculação de RNAm, podem contribuir para o desenho de novos fármacos a serem futuramente avaliados e potencialmente incorporados no arsenal terapêutico contra essa doença.
Veja aqui a lista completa de exames do Senne Liquor
Bibliografia consultada:
- Marques, V.D., Passos, G.R.D., Mendes, M.F., Callegaro, D., Lana-Peixoto, M.A., Comini-Frota, E.R., Vasconcelos, C.C.F., Sato, D.K., Ferreira, M.L.B., Parolin, M.K.F., Damasceno, A., Grzesiuk, A.K., Muniz, A., Matta, A.P.D.C., Oliveira, B.E.S., Tauil, C.B., Maciel, D.R.K., Diniz, D.S., Corrêa, E.C., Coronetti, F., Jorge, F.M.H., Sato, H.K., Gonçalves, M.V.M., Sousa, N.A.C., Nascimento, O.J.M., Gama, P.D.D., Domingues, R., Simm, R.F., Thomaz, R.B., Morales, R.R., Dias, R.M., Apóstolos-Pereira, S.D., Machado, S.C.N., Junqueira, T.F., & Becker, J. (2018). Brazilian Consensus for the Treatment of Multiple Sclerosis: Brazilian Academy of Neurology and Brazilian Committee on Treatment and Research in Multiple Sclerosis. Arquivos de Neuropsiquiatria, 76(8), 539-554.
- Bargiela, D., Bianchi, M.T., Westover, M.B., Chibnik, L.B., Healy, B.C., De Jager, P.L., & Xia, Z. (2017). Selection of first-line therapy in multiple sclerosis using risk-benefit decision analysis. Neurology, 88(7), 677-684.
- Goldschmidt, C. & McGinley, M.P. (2021). Advances in the Treatment of Multiple Sclerosis. Neurologic Clinics, 39(1), 21-33.