Nos últimos anos, tem sido registrado um aumento no número de casos de sífilis. De acordo com o Boletim Epidemiológico de Sífilis de 2018, do Ministério da Saúde, há um crescimento dos casos em todos os cenários dessa infecção, mas principalmente entre mulheres negras e jovens, dos 20 aos 29 anos.
Nessa faixa etária, as mulheres respondem por 26,2% dos casos, enquanto os homens por 13,6%. Esse cenário traz sérias preocupações, também devido à Sífilis Congênita. Em 2016, eram 10,8/1000 nascidos vivos com a infecção. Em 2017, esse número subiu para 17,2/1000 dos nascidos vivos.
NEUROSÍFILIS
- A Neurossífilis ocorre em cerca de 3,5% dos casos de Sífilis. Sua prevalência nos EUA varia de 0,47 a 2,1 casos/100.00 habitantes e não é conhecida em nosso meio. A coinfecção pelo vírus HIV aumenta em duas vezes o risco de desenvolvimento da doença.
- A neuroinvasão pelo Treponema pallidum ocorre em cerca de 40% dos casos de infecção por essa bactéria. Desses, 30% evoluem com infecção persistente, e em 70% ocorre o clearance da bactéria do Sistema Nervoso Central (SNC). Nos casos de infecção persistente, 20% terão infecção sintomática.
- Os sintomas e as síndromes neurológicas têm relação temporal com as infecções primária, secundária e terciária. Nos estágios mais precoces, predominam as manifestações associadas à Sífilis Meningovascular: Meningite, Acidente Vascular Cerebral (AVC), lesão de nervos cranianos, incluindo o nervo óptico, e Mielopatia Progressiva. Na fase tardia, pode ocorrer a paralisia geral, caracterizada por demência e sintomas neuropsiquiátricos, ataxia, alterações pupilares (a clássica Pupila de Argyll-Robertson), e o Tabes dorsalis, com marcha atáxica, Sinal de Romberg e paraparesia.
- Considerando-se a variedade de sinais e sintomas e a diversidade de apresentação evolutiva, bem como a disponibilidade de tratamento eficaz, faz-se necessário o diagnóstico o mais prontamente possível, para prevenção de sequelas neurológicas definitivas.
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DIAGNÓSTICO DA NEUROSÍFILIS
- O diagnóstico da Neurossífilis é um grande desafio, visto não haver nenhum marcador laboratorial único, suficientemente sensível e específico. Os exames para identificação de anticorpos são divididos em treponêmicos e não treponêmicos. Os testes não treponêmicos medem anticorpos contra a cardiolipina e incluem o VDRL e a RPR (“rapid plasma reagin”). No soro, esses testes são úteis para avaliar a atividade da doença. Os principais testes treponêmicos são a imunofluorescência (FTA-ABS), a aglutinação de partículas e o ELISA. Esses testes são usados para confirmação diagnóstica e são mais específicos que os treponêmicos.
- A análise do líquido cefalorraquidiano (liquor) é fundamental para o diagnóstico e a tomada de decisões terapêuticas. O VDRL no material é o padrão ouro. Nesse caso, o resultado positivo é considerado confirmatório; contudo, esse teste possui baixa sensibilidade (cerca de 50%, considerando-se todas as fases). A monitorização dos títulos do VDRL no liquor é útil na monitorização do tratamento, juntamente com outros parâmetros liquóricos, como a citometria e a proteinorraquia. Testes treponêmicos são altamente sensíveis nessa mesma substância, porém têm menor especificidade que o VDRL. Resultados falso-positivos podem ocorrer, especialmente em caso de contaminação pelo sangue (hemácias>1000/mm3). Não são úteis na monitorização terapêutica, pois a positividade pode persistir por longos períodos após o tratamento efetivo.
- O algoritmo diagnóstico para a Neurossífilis pode ser subdividido em 2 tipos: Neurossífilis Assintomática e Neurossífilis Sintomática.
Neurossífilis Sintomática
Adaptado de C Marra, modificado por Senne Liquor Diagnóstico
Neurossífilis Sintomática (HIV-)
Adaptado de C Marra, modificado por Senne Liquor Diagnóstico
Neurossífilis Sintomática (HIV+)
Adaptado de C Marra, modificado por Senne Liquor Diagnóstico
Veja também: Neurossífilis: Diagnóstico liquórico.
Sensibilidade dos Testes Diagnósticos
Adaptado de Ropper A., 2019
Tratamento
Confira a versão impressa do artigo “Sífilis: Diagnóstico das complicações neurológicas”.
REFERÊNCIAS:
1: Gonzalez H, Koralnik IJ, Marra CM. Neurosyphilis. Semin Neurol 2019 Aug;39(4):448-455.
2: Ropper AH. Neurosyphilis. N Engl J Med 2019;381(14):1358-1363.
3. Marra CM. Neurosyphilis. Continuum (Minneap Minn) 2015;21(6 Neuroinfectious Disease):1714-28.
*Conteúdo Exclusivo do Senne Liquor Diagnóstico