Leucemias e o comprometimento do sistema nervoso central (SNC) 

As leucemias, em especial as agudas, podem afetar o sistema nervoso central (SNC). A infiltração neoplásica meníngea é a principal complicação neurológica dessas doenças e, quando acontece, determina um pior prognóstico. O exame do líquido cefalorraquidiano, por meio da citomorfologia e da imunofenotipagem, é imprescindível para o diagnóstico da infiltração meníngea nas leucemias.

Além de diagnosticar essa complicação, o exame é também necessário para constatar potenciais neuroinfecções oportunistas. Em pacientes com infiltração do SNC, a punção lombar pode ser usada para infusão intratecal de quimioterápicos, aumentando a eficácia terapêutica.  

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A infiltração neoplásica meníngea é a principal complicação neurológica das leucemias que afetam o SNC. Nas infiltrações neoplásicas, as células tumorais infiltram diretamente o SNC (meninges, espaço subaracnóideo e parênquima cerebral).

A Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) determina infiltração do SNC em 3 a 5% dos casos em crianças e 5 a 10% dos adultos. Nas Leucemias Mieloblásticas Agudas (LMA), a infiltração meníngea é diagnosticada em 10% das crianças e 5% dos adultos. Nas formas crônicas, a infiltração é menos frequente, ocorrendo em 1% dos casos na Leucemia Linfoblástica Crônica (LLC) e sendo extremamente rara na Leucemia Mieloide Crônica (LMC).  

A presença de infiltração neoplásica piora o prognóstico e aumenta o risco de recidivas. Em pacientes com infiltração do SNC, as recidivas são verificadas em 30 a 40% dos casos, e, nos casos de LLA sem infiltração meníngea, a recidiva ocorre em apenas 3 a 6% dos pacientes. 

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Além da infiltração neoplásica pelas células tumorais, outras complicações neurológicas podem ocorrer em pacientes com leucemias: hemorragia intracraniana, encefalopatia, que pode ser secundária a processos infecciosos, alterações metabólicas ou efeito dos quimioterápicos, além de meningites e encefalites infecciosas.  

As complicações neurológicas nas leucemias devem ser rapidamente identificadas, visando iniciar o tratamento o mais rápido possível e, assim, aumentar as chances de sucesso terapêutico. 

O quadro clínico nas infiltrações neoplásicas meníngeas é inespecífico, podendo haver cefaleia, alteração de consciência, alteração de pares cranianos e outros sintomas neurológicos focais. Os exames de neuroimagem são importantes, pois podem detectar hemorragias e outras lesões expansivas que, por vezes, contraindicam a realização da punção lombar (PL). A PL e o exame do líquido cefalorraquidiano são de extrema importância na avaliação desses casos e no diagnóstico das infecções e das infiltrações neoplásicas.  

Diagnóstico das infiltrações neoplásicas meníngeas nas leucemias

Exames de imagem, como a ressonância magnética (RM) do crânio, podem ser úteis na exclusão de outras causas para os sintomas neurológicos, como uma hemorragia ou encefalite. O diagnóstico de certeza da infiltração neoplásica meníngea é feito pela detecção de células neoplásicas no líquido cefalorraquidiano. Essa demonstração é feita tradicionalmente pelo exame citomorfológico do material. 

Apesar de ser um método altamente específico, quando positivo, a citomorfologia pode apresentar-se negativa em cerca de 45% dos casos de leucemias com infiltração meníngea. A sensibilidade pode ser aumentada por meio de alguns procedimentos, como a obtenção de um maior volume liquórico, punções repetidas e pela análise das células liquóricas feita por profissional especializado e altamente experiente.   

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A imunofenotipagem por citometria de fluxo é uma técnica que permite estudar características de uma população ou subpopulações celulares, a partir do uso de anticorpos contra antígenos de superfície. Com a imunofenotipagem no líquido cefalorraquidiano é possível identificar infiltrações neoplásicas subclínicas nas leucemias. Além disso, a imunofenotipagem tem uma maior sensibilidade do que a citomorfologia em casos em que a contagem de células no líquido cefalorraquidiano é baixa ou normal. Essa contribuição da imunofenotipagem foi demonstrada por dois recentes estudos internacionais publicados pelo Senne Liquor (referências abaixo).  

Outras contribuições do líquido cefalorraquidiano nos casos de leucemias  

Infecções oportunistas podem ocorrer em pacientes com leucemias. Inúmeros vírus, bactérias, fungos e parasitas podem estar envolvidos, e o exame do líquido cefalorraquidiano é imprescindível para mostrar a existência da infecção, por meio dos achados citológicos e bioquímicos. Esse tipo de exame também  identifica o agente, seja por métodos microbiológicos convencionais, como a identificação direta e a cultura, seja por métodos avançados de biologia molecular.   

O procedimento de punção lombar (PL) é utilizado a para administração de medicamentos e a quimioterapia intratecal, que permite infusão de medicamentos como o metotrexato, citarabina e hidrocortisona em pacientes com LLA, seja durante a fase de indução terapêutica, seja no tratamento de recidivas, com aumento da eficácia do tratamento antineoplásico.  

Conclusões 

As complicações neurológicas nas leucemias são comuns e pioram muito o prognóstico dos pacientes. Nem sempre há sintomas e, eventualmente, eles são tardios. Por isso, o rastreio no líquido cefalorraquidiano está sempre indicado em pacientes com leucemias agudas.

Para o diagnóstico das infiltrações neoplásicas, deve ser usada a combinação da citomorfologia com a imunofenotipagem. No diagnóstico das neuroinfecções, o exame quimiocitológico, a microbiologia convencional e a PCR em amostras de líquido cefalorraquidiano são essenciais para o diagnóstico etiológico. Além das contribuições diagnósticas desse material, a PL é uma via de infusão de medicamentos, permitindo uma melhor ação antitumoral nos casos em que há infiltração do SNC.  

O Senne Liquor Diagnóstico possui médicos altamente capacitados para a realização de coleta do líquido cefalorraquidiano e infusão de quimioterapia intratecal, além de especialistas com grande expertise para realização das análises citomorfológicas. A citomorfologia, no Senne Liquor, é realizada de forma independente por dois médicos especialistas. Além disso, o Senne Liquor realiza a imunofenotipagem e é pioneiro no Brasil na utilização do Transfix, um tubo para transporte das amostras coletadas que resulta em maior estabilidade e viabilidade celular e, portanto, melhor análise e melhores resultados. 

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Bibliografia consultada:  

  • Domingues, R.B., Leite, F.B.V.M., & Senne, C. (2020). Cerebrospinal fluid findings in patients with hematologic neoplasms and meningeal infiltration. Acta Neurologica Belgica, 121(6), 1543-1546. doi: 10.1007/s13760-020-01397-0. 
  • Bento L.C., Correia, R.P., Alexandre, A.M., Nosawa, S.T., Pedro, E.C., Vaz, A.D.C., Schimidell, D., Fernandes, G.B.P., Duarte, C.A.S., Barroso, R.S., & Bacal, N.S. (2018). Detection of Central Nervous System Infiltration by Myeloid and Lymphoid Hematologic Neoplasms Using Flow Cytometry Analysis: Diagnostic Accuracy Study. Frontiers in Medicine (Lausanne), 5:70.  
  • Girard, S., Fenneteau, O., Mestrallet, F., Troussard, X., & Lesesve, J.F. (2017). Recommendations for cerebrospinal fluid examination in acute leukemia. Annales de Biologie Clinique (Paris), 2017, 75(5), 503-512.