Doenças priônicas humanas: saiba mais sobre o diagnóstico da Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ).

A Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é a mais comum dentre as doenças humanas causadas por príons. A incidência é de um novo caso por ano a cada 1 milhão de habitantes, e a média de idade para o início da patologia é de 62 anos.

Há quatro formas desta condição: esporádica (85% a 95% dos casos), genética (5% a 15%), iatrogênica e variante (ambas < 1%). Príons (PrPSc) são pequenas partículas infecciosas que se replicam e substituem proteínas normais (PrPC), causando neurotoxicidade.

A origem do PrPSc é desconhecida na forma esporádica. Já a genética é causada por mutações no gene da PrPC. Evidências indicam que o tipo variante resulta de infecção por príon originado da encefalopatia espongiforme bovina. A forma iatrogênica, praticamente controlada nos dias de hoje, decorre de contaminação em procedimentos como neurocirurgias.

A sintomatologia mais comum é uma rápida deterioração neuropsiquiátrica, com alterações cognitivas e comportamentais. As mioclonias estão presentes em mais de 90% dos pacientes. Outras manifestações neurológicas incluem síndrome cerebelar, hiper-reflexia, bradicinesia, distonia e outros sinais extrapiramidais.

Diferentes subtipos de DCJ têm sido descritos com base no genótipo da proteína do príon, no seu códon 129. 

A avaliação de um paciente com demência rapidamente progressiva inclui, no geral, neuroimagem, ressonância magnética (RM) de crânio, eletroencefalograma (EEG) e avaliação do líquido cefalorraquidiano (liquor).

Ressonância magnética

O sinal hiperintenso nas imagens ponderadas em DWI, FLAIR e T2, envolvendo o córtex cerebral, o núcleo caudado do corpo estriado e o putâmen, é o padrão mais comum na RM de pacientes com DCJ esporádica.

Em particular, o envolvimento do giro frontal superior, lóbulo parietal superior, giro do cíngulo e córtex insular é comum; o envolvimento límbico isolado é raro. O córtex perirolândico é geralmente poupado. A sequência DWI é a mais sensível para a detecção de lesões relacionadas à DCJ.

Eletroencefalograma

O padrão característico do EEG é de ondas trifásicas síncronas periódicas, observado em 67% a 95% dos pacientes com DCJ, em algum momento durante o curso da doença. 

Exame do líquido cefalorraquidiano

O grande avanço diagnóstico dos últimos anos está associado à introdução dos seguintes marcadores liquóricos: 

  • RT-QuIC (do inglês, Real-Time Quaking-Induced Conversion): identifica o acúmulo de proteína patológica do príon patogênico (PrPSc). A sua sensibilidade é de 87% a 91%, e a especificidade de 98% a 100%. É o método mais sensível  e específico para o diagnóstico da doença.
  • Proteína 14-3-3: a sua detecção também é um indicador do diagnóstico de DCJ. A sensibilidade é de 92% e a especificidade de 80%. Outras doenças, como encefalopatia hipóxica, encefalite herpética e paraneoplásica também podem resultar na detecção desta proteína. 
  • Proteína tau: trata-se de um marcador inespecífico que, quando muito elevado, acima de 1.150 pg/mL, apresenta níveis de sensibilidade e especificidade comparáveis à proteína 14-3-3.

Os demais parâmetros liquóricos tendem a se encontrar dentro da normalidade na DCJ. Alguns pacientes apresentam hiperproteinorraquia. A presença de pleocitose, aumento de IgG total ou do índice de IgG, bandas oligoclonais, ou outras alterações inflamatórias liquóricas, praticamente excluem o diagnóstico da doença. Nesse caso, deve-se considerar a hipótese de outras condições, como encefalites autoimunes.

Critérios diagnósticos

Segundo os Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, o diagnóstico definitivo de DCJ é feito pelo exame neuropatológico, e os seus critérios prováveis são:

1) Transtorno neuropsiquiátrico com RT-QuIC positivo.

2) Demência rapidamente progressiva com ao menos dois dos seguintes sinais clínicos: mioclonia, distúrbio visual ou cerebelar, disfunção piramidal ou extrapiramidal e mutismo acinético.

Além dos critérios clínicos há necessidade de suporte diagnóstico em um ou mais dos seguintes exames: EEG típico, proteína 14-3-3 positiva e achados sugestivos à ressonância.

Tratamento e prognóstico

Ainda não há tratamento eficaz para a DCJ, que é inexoravelmente fatal. A morte no geral ocorre dentro de um ano do início dos sintomas, com uma duração média da doença de seis meses.

As medidas de suporte incluem: comunicação precoce e eficaz com a família, suporte social e tratamento sintomático para o manejo de manifestações neuropsiquiátricas angustiantes ou incapacitantes.

A mioclonia pode responder a benzodiazepínicos, como o clonazepam, bem como a certos medicamentos anticonvulsivantes, como levetiracetam e valproato. Não há benefícios com inibidores da colinesterase ou antagonistas do receptor N-metil-D-aspartato (NMDA).

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