EXAME DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO (LCR) NO DIAGNÓSTICO DAS DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO

O exame do líquido cefalorraqueano (LCR) é essencial para o diagnóstico de inúmeras condições neurológicas.

Nos últimos anos, a relevância do LCR tem se expandido como resultado da incorporação de novos testes e estas inovações têm se traduzido em diagnósticos mais rápidos e mais precisos.

Além disso, o LCR pode contribuir, em muitas situações, para melhores escolhas terapêuticas e sua monitorização, com o uso de diversas tecnologias, como por exemplo:

Biologia molecular
Utilizada no LCR há vários anos para identificação, por exemplo, de material genético de patógenos nas neuroinfecções. Mais recentemente, seu uso em LCR vem se expandindo no diagnóstico de demências e na neuro-oncologia.

Espectrometria de massas
Permite a análise detalhada de proteínas (proteômica), lípides (lipidômica) e metabólitos (metabolômica), identificando perfis que distinguem diversas doenças. Tais análises têm sido crescentememte avaliadas para identificação de biomarcadores diagnósticos nas neuroinfecções, demências, doenças autoimunes e neoplasias.

Identificação de anticorpos
É tradicionalmente usada no diagnóstico liquórico de algumas neuroinfecções e doenças autoimunes. Tecnologias como a “cell-based assay” permitem maior especificidade na identificação de anticorpos em doenças autoimunes, como, por exemplo, as encefalites autoimunes.

DISTÚRBIOS COGNITIVOS

  • A mensuração de biomarcadores no LCR (β-amiloide, Tau, P-Tau, relação T-tau/Aβ1-42, NfL) faz parte do diagnóstico da Doença de Alzheimer (DA), estando incorporada aos atuais critérios diagnósticos.
  • O LCR contribui ainda, de forma significativa, para o diagnóstico de outras demências e distúrbios cognitivos:
    • Doença de Creutzfeldt-Jakob: Proteína 14-3-3, RT-QuiC e Tau
    • Neurolues: pesquisa de anticorpos treponêmicos (FTA-Abs e ELISA) e não treponêmicos (VDRL)
    • Hidrocefaleia de pressão normal (HPN): através do Tap-Test
    • Diagnóstico de encefalopatias autoimunes e paraneoplásicas: painel de auto-anticorpos
  • Além disso, estudos vêm avaliando biocardores liquóricos em outras demências, como a demência fronto-temporal (DFT) e a demência com corpos de Lewy (DCL).
  • O neurofilamento de cadeia leve (NfL) têm sido estudado como marcador na DA e outras demências.

DOENÇAS AUTOIMUNES

  • O papel do LCR é fundamental no diagnóstico da Esclerose Múltipla (EM), tendo sido ampliado com os crtérios diagnósticos publicados em 2018. A identificação de imunoprodução intratecal, seja por métodos quantitativos (índice de IgG, nomograma de Reiber), ou qualitativos (pesquisa de bandas oligoclonais – BOCs), tem grande sensibilidade diagnóstica. Estudo realizado no Senne Liquor em 2019 mostrou a importância de realizar sempre, em paralelo, métodos quantitativos e qualitativos.
  • A dosagem de NfL vem se estabelecendo cada vez mais como um método útil para a avaliação prognóstica e, sobretudo, na monitorização terapêutica de pacientes com EM.
  • A identificação de anticorpos como anti-AQ4 e anti-MOG é de fundamental importância no diangóstico diferencial de doenças desmielinizantes do SNC.
  • O painel de anticorpos para encefalopatias autoimunes/paraneoplásicas é fundamental da diferenciação destas diferentes formas destas doenças.
  • Novos marcadores, como quitinase-1 e CXCL13 têm sido avaliados como potenciais novos marcadores na EM. Este último tem potencial importância na definição e monitoramento de terapias anti linfócitos B.

NEUROINFECÇÕES

  • A análise convencional do LCR é imprescindível para o passo inicial no diagnóstico das neuroinfecções.
  • A biologia molecular tem contribuído para o diagnóstico mais rápido e preciso de neuroinfecções. O painel FilmArray/Biofire identifica, em até 2 horas, 14 diferentes tipos de agentes, incluindo bactérias, vírus e C. Neoformans. Seu uso contribui para a definição rápida do tratamento, evitando o uso inadequado de antibióticos.
  • A análise do LCR é essencial no diagnóstico de complicações neurológicas de arboviroses, incluindo dengue, febre amarela, zika e chikungunya. Também contribui para avaliação de complicações neurológicas do sarampo, infecção reemergente em nosso meio. Nestes casos a detecção de IgM, a produção intratecal de IgG específica e a PCR são as técnicas utilizadas.
  • Métodos treponêmicos e não treponêmicos de identificação e quantificação de anticorpos no LCR são fudamentais para o diagnóstico e monitorização terapêutica na neurosífilis.

NEOPLASIAS

    • A análise do LCR é o elemento de maior importância para identificação de infiltrações neoplásicas meníngeas. No caso de metástases de neoplasias sólidas, a citomorfologia, ou citologia oncótica é a técnica realizada de rotina. No caso das neoplasias hematológicas, além da citomorfologia, a imunofenotipagem é também realizada. Esta última aumenta a sensibilidade, epecialmente em casos em que o LCR tem baixa celularidade.
    • A acurácia da citomorfologia depende da experiência do examinador, sendo recomendável que todos os casos sejam avaliados por mais de um especialista.
    • A biópsia líquida vem sendo testada em neurooncologia, seja para identificação e monitorização de tumores primários do SNC quanto em neoplasias metastáticas. Ela consiste na identificação de material genético específico do tumor em amostras de LCR. Possui maior sensibilidade para tumores contíguos às meninges. Em casos de suspeita de recidiva tumoral pode acrescentar informações relavantes, já que a ressonância frequentemente não distingue entre radionecrose e reaparecimento do tumor.

Veja a versão impressa

*Conteúdo Exclusivo do Senne Liquor Diagnóstico