ÍNDICE KAPPA NO LIQUOR NO DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS DESMIELINIZANTES

A detecção de ativação intratecal de linfócitos B constitui uma das mais importantes ferramentas no diagnóstico da Esclerose Múltipla. A avaliação dessa ativação é feita de forma quantitativa ou qualitativa, através do estudo das imunoglobulinas presentes no LCR.

Dentre os métodos quantitativos habitualmente empregados, temos:
dosagem de IgG no LCR;
índice de IgG;
nomograma de Reiber;
reação MRZ (índice de anticorpos contra sarampo, rubéola e zoster no LCR/soro), descrita na literatura, mas de pouca utilização na prática.

O método considerado mais preciso para a avaliação de síntese intratecal de IgG é qualitativo, a pesquisa de bandas oligoclonais (BOC) no LCR e soro. Esse método, realizado por meio da técnica de focalização isoelétrica, permite a identificação de clones específicos de IgG no LCR e, portanto, sintetizados dentro do sistema nervoso central (SNC).

Recentemente, alguns estudos têm avaliado a quantificação de imunoglobulinas de cadeias leve livres, subtipos kappa (κ) e lambda (λ), no estudo da imunoprodução intratecal. Tais imunoglobulinas são mensuradas por imunonefelometria (Freelite®, The Binding Site Group, Ltd., Birmingham, UK) com leitura em equipamento específico. Os estudos têm demonstrado grande precisão com estas determinações, indicando uma resposta com maior produção de kappa em pacientes com esclerose múltipla (EM), ou seja, um aumento específico do subtipo kappa, avaliado com base em um quociente específico:

Q kappa: κ LCR / κ SORO (podendo ser corrigido pelo quociente de albumina: alb LCR / alb SORO).

O aumento do índice kappa apresenta altos níveis de sensibilidade e especificidade em relação a outros parâmetros da avaliação da imunoprodução intratecal em pacientes com Esclerose Múltipla (EM). Além disso, em pacientes com síndrome clinicamente isolada (CIS) e síndrome radiologicamente isolada (RIS), há uma boa correlação destes índices com o risco de evoluir para EM.

O Senne Liquor Diagnóstico avaliou o índice kappa em 153 amostras de LCR e soro colhidas de 153 pacientes com suspeita de EM e submetidos ao exame de LCR como parte da investigação diagnóstica de rotina. Presença de BOCs foi detectada em 70 dos casos. Destes 70 casos, o índice kappa foi positivo em 68 (97,1%).

Dos 83 casos com BOCs negativas, o índice kappa foi positivo em 7 (8,4%). De acordo com informações obtidas dos médicos assistentes, estes 7 pacientes tinham quadro clínico e radiológico compatível com EM.

Portanto, os dados até aqui obtidos pelo Senne Liquor, confirmando as informações de literatura, permitem concluir que o índice kappa tem:
grande correlação com a pesquisa de BOCs, com ótima especificidade e sensibilidade;
possibilidade de aumentar a sensibilidade diagnóstica quando realizada em paralelo aos demais exames, podendo identificar a produção intratecal de anticorpos em casos em que a pesquisa de BOCs é negativa.

A pesquisa de imunoglobulinas de cadeia leve, ou índice kappa, já está disponível no Senne Liquor. Trata-se de mais uma ferramenta no diagnóstico da EM podendo trazer, com os demais métodos diagnósticos, informações relevantes para o tratamento precoce dessa doença.

Bibliografia consultada:

Agnello, Luisa et al. “Clinical Use of κree Light Chains Index as a Screening Test for Multiple Sclerosis.”Laboratory medicinevol. 51,4 (2020): 402-407. doi:10.1093/labmed/lmz073
Ferraro, D et al. “Cerebrospinal fluid kappa and lambda free light chains in oligoclonal band-negative patients with suspected multiple sclerosis. ”European journal of neurologyvol. 27,3 (2020): 461-467. doi:10.1111/ene.14121
Gudowska-Sawczuk, Monika et al. “Kappa Free Light Chains and IgG Combined in a Novel Algorithm for the Detection of Multiple Sclerosis.”Brain sciencesvol. 10,6 324. 27 May. 2020, doi:10.3390/brainsci10060324
Huss A, Mojib-Yezdani F, Bachhuber F, et al. Association of cerebrospinal fluid kappa free light chains with the intrathecal polyspecific antiviral immune response in multiple sclerosis. Clin Chim Acta. 2019;498:148-153.
Huss, André et al. “Association of cerebrospinal fluid kappa free light chains with the intrathecal polyspecific antiviral immune response in multiple sclerosis.”Clinica chimica acta; international journal of clinical chemistryvol. 498 (2019): 148-153. doi:10.1016/j.cca.2019.08.016
Makshakov G, Nazarov V, Kochetova O, Surkova E, Lapin S, Evdoshenko E. Diagnostic and Prognostic Value of the Cerebrospinal Fluid Concentration of Immunoglobulin Free Light Chains in Clinically Isolated Syndrome with Conversion to Multiple Sclerosis. PLoS One. 2015;10(11):e0143375.
Menéndez-Valladares, P et al. “Free kappa light chains in cerebrospinal fluid as a biomarker to assess risk conversion to multiple sclerosis.”Multiple sclerosis journal – experimental, translational and clinicalvol. 1 2055217315620935. 16 Dec. 2015, doi:10.1177/2055217315620935
Presslauer, Stefan et al. “Elevated levels of kappa free light chains in CSF support the diagnosis of multiple sclerosis.”Journal of neurologyvol. 255,10 (2008): 1508-14. doi:10.1007/s00415-008-0954-z
Presslauer, Stefan et al. “Kappa free light chains: diagnostic and prognostic relevance in MS and CIS.”PloS onevol. 9,2 e89945. 25 Feb. 2014, doi:10.1371/journal.pone.0089945
Presslauer, Stefan et al. “Validation of kappa free light chains as a diagnostic biomarker in multiple sclerosis and clinically isolated syndrome: A multicenter study.”Multiple sclerosis (Houndmills, Basingstoke, England)vol. 22,4 (2016): 502-10. doi:10.1177/1352458515594044
Süße M, Reiber H, Grothe M, et al. Free light chain kappa and the polyspecific immune response in MS and CIS – Application of the hyperbolic reference range for most reliable data interpretation. J Neuroimmunol. 2020;346:577287.
Vecchio D, Bellomo G, Serino R, et al. Intrathecal kappa free light chains as markers for multiple sclerosis. Sci Rep. 2020;10(1):20329.
Voortman MM, Stojakovic T, Pirpamer L, et al. Prognostic value of free light chains lambda and kappa in early multiple sclerosis. Mult Scler. 2017;23(11):1496-1505.
Voortman, Margarete M et al. “Prognostic value of free light chains lambda and kappa in early multiple sclerosis.”Multiple sclerosis (Houndmills, Basingstoke, England)vol. 23,11 (2017): 1496-1505. doi:10.1177/1352458516681503