MENOPAUSA PRECOCE AUMENTA O RISCO DE DEMÊNCIA

Um estudo recente identificou que mulheres que entram na menopausa muito cedo correm maior risco de desenvolver demência. No estudo, os autores analisaram a relação potencial entre a idade de início da menopausa e o diagnóstico de demência de qualquer causa. Os dados de saúde de 153.291 mulheres com idade média de 60 anos foram examinados. Eles faziam parte do UK Biobank, um grande banco de dados que inclui informações genéticas e de saúde de mais de meio milhão de pessoas que vivem no Reino Unido.

Os investigadores incluíram o diagnóstico de todas as demências, incluindo a Doença de Alzheimer (DA), demência vascular e demências de outras causas. Eles calcularam o risco de ocorrência de demência de acordo com a idade em que as mulheres relataram ter entrado na menopausa. Os resultados foram ajustados para etnia, escolaridade, tabagismo, consumo de álcool, índice de massa corporal (IMC), doenças cardiovasculares, diabetes, renda e atividades físicas e de lazer.

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A análise dos dados mostrou que mulheres que entraram na menopausa de forma precoce (antes dos 40 anos) tiveram 35% mais chances de serem diagnosticadas com demência. As mulheres que entraram na menopausa antes dos 45 anos foram 1,3 vezes mais propensas a serem diagnosticadas com demência de início precoce (antes dos 65 anos). 

Não houve relação entre idade na menopausa e o risco de demência vascular. Esse achado é surpreendente, visto que as mulheres na pós-menopausa tenham maior risco de acidente vascular cerebral (AVC) do que as mulheres na pré-menopausa, e o AVC é uma das causas e pode resultar em demência vascular.

Uma das hipóteses para explicar os achados do estudo é que os níveis reduzidos de estrogênio verificados na menopausa precoce possam estar relacionados à demência. A falta de estrogênio a longo prazo pode aumentar o estresse oxidativo, um dos elementos fisiopatológicos relacionados às demências degenerativas. Essa conexão pode também explicar o fato de que mais de 60% das pessoas com Doença de Alzheimer sejam do gênero feminino. A falta de estrogênio pode estar associada a fatores genéticos, aumentando o risco entre as mulheres. 

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A presença de polimorfismos no gene da apolipoproteína E, particularmente a variante épsilon 4 (APOE-ε4), é um importante fator de risco para DA tardia. Evidências indicam que o risco de APOE-ε4 para DA é maior em mulheres do que em homens, o que é particularmente evidente em mulheres heterozigotas portadoras de um alelo APOE-ε4. Os achados do estudo são bastante relevantes, visto que o risco de demência pode ser reduzido por meio da prática regular de exercícios físicos, participação em atividades de lazer e educacionais, padrão de sono adequado, ao não fumar e não ingerir bebidas alcoólicas, ao manter o peso dentro dos limites normais e fazer controle de doenças que aumentam o risco cardiovascular, como hipertensão e dislipidemias. Considerando-se o aumento de risco de demência, tais mudanças de estilo de vida têm ainda maior relevância nesse grupo de pacientes. 

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Outra perspectiva é a relação dos achados desse estudo com biomarcadores de DA.  Hoje contamos com biomarcadores de deposição de beta-amiloide, que são a redução da isoforma Aβ42 (ou da razão Aβ42/Aβ40) no líquido cefalorraquidiano (liquor) e a identificação de depósito amiloide no cérebro por meio do PET amiloide, além de biomarcadores para os emaranhados neurofibrilares como o aumento da Tau total (t-tau) e da Tau fosforilada (p-tau) no LCR. Tais biomarcadores se relacionam com a patologia cerebral da Doença de Alzheimer e podem ser identificados anos antes do surgimento dos sintomas. O seguimento, por meio de dosagens destes marcadores em indivíduos particularmente vulneráveis, pode contribuir ainda mais para o reforço das estratégias de prevenção.

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Agora que você já sabe mais sobre a relação entre menopausa precoce e o risco de demência, confira aqui a relação completa de exames do Senne Liquor.

Bibliografia consultada: 

  • www.sciencedaily.com/releases/2022/03/220302131326.htm
  • Riedel BC, Thompson PM, Brinton RD. Age, APOE and sex: Triad of risk of Alzheimer’s disease. J Steroid Biochem Mol Biol. 2016 Jun;160:134-47. doi: 10.1016/j.jsbmb.2016.03.012. Epub 2016 Mar 8. PMID: 26969397; PMCID: PMC4905558.
  • d’Abramo C, D’Adamio L, Giliberto L. Significance of Blood and Cerebrospinal Fluid Biomarkers for Alzheimer’s Disease: Sensitivity, Specificity and Potential for Clinical Use. J Pers Med. 2020 Sep 8;10(3):116. doi: 10.3390/jpm10030116. PMID: 32911755; PMCID: PMC7565390.