O líquido cefalorraquidiano e a AIDS

A avaliação de pacientes infectados pelo vírus HIV e que apresentam alterações do exame neurológico é de fundamental importância, visto que muitas complicações neurológicas relacionadas à AIDS são graves, requerendo diagnóstico e tratamentos rápidos.

Vários são os agentes causadores de complicações neurológicas nesses pacientes. O grau de imunossupressão, de acordo com a contagem de linfócitos CD4 no sangue periférico, é um fator determinante:

  • CD4 acima de 500/μL – sem imunossupressão, com perfil etiológico que não se diferencia dos pacientes imunocompetentes,
  • CD4 entre 200-500/μL – imunossupressão moderada. Podem ser encontradas desordens cognitivas e motoras relacionadas ao próprio HIV, usualmente sem sintomas focais,
  • CD4 abaixo de 200/μL – imunossupressão severa. Neste estágio, são encontradas as infecções oportunistas e o linfoma primário do SNC.

A utilização dos antirretrovirais trouxe uma importante redução na frequência de infecções oportunistas.

No entanto, as complicações decorrentes da infecção pelo próprio HIV são ainda comuns.

Veja também: A indicação da punção liquórica e a interpretação do líquido cefalorraquidiano na sífilis.

As manifestações neurológicas decorrentes do HIV podem ser assim classificadas:

  1. Manifestações no Sistema Nervoso Central (SNC):- Desordem neurocognitiva associada ao HIV:
    – Mielopatia vacuolar;
    – Doença cerebrovascular;
    – Meningite asséptica.
  1. Manifestações no Sistema Nervoso Periférico (SNP):

– Neuropatias periféricas
– Miopatia.

As infecções neurológicas oportunistas podem ser divididas em:

  1. Lesões expansivas do SNC:

– Neurotoxoplasmose;
– Linfoma primário do SNC;
– Outras lesões expansivas.

  1. Lesões não expansivas do SNC- Leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP).
  2. Encefalite por CMV.
  3. Meningites- C. neoformans:
    – Meningite tuberculosa;
    – Neurolues;
    – Outras.

A avaliação desses casos é feita por métodos neurorradiológicos, como a tomografia e a ressonância magnética, que podem identificar a presença de lesões expansivas, captação de contraste, lesões de substância branca, espessamento meníngeo, entre outras anormalidades, que ajudam não apenas a sugerir a etiologia, mas também a definir a conduta.

Por exemplo, pacientes com imunossupressão e lesões expansivas captantes podem ser empiricamente tratados com esquema para Neurotoxoplasmose, desde que sejam soropositivos para Toxoplasma.

O exame do líquido cefalorraquidiano é fundamental na definição etiológica desses quadros. Considerando o risco de herniação transtentorial associado às lesões expansivas, esses pacientes devem ser avaliados por neuroimagem antes da realização da punção lombar.

Confira: O líquido cefalorraquidiano e a epilepsia.

Uma vez que a tomografia ou a ressonância tenha afastado o risco dessa complicação, todos os pacientes com sintomas neurológicos e infecção por HIV devem ter o líquido cefalorraquidiano incluído na sua avaliação diagnóstica.

Pacientes com Neurotoxoplasmose, LEMP e linfoma primário geralmente apresentam pleocitose leve e aumento leve da proteinorraquia. Pacientes com Meningite Asséptica pelo HIV apresentam anormalidades liquóricas semelhantes às Meningites Virais.

Técnicas microbiológicas convencionais são empregadas para o diagnóstico de infecções, como a Neurocriptococose, Neurotuberculose e abscessos cerebrais.

A identificação de anticorpos treponêmicos e não treponêmicos no líquido cefalorraquidiano é essencial para o diagnóstico da Neurossífilis.

Além da análise citobioquímica, microbiológica e imunológica do material, a técnica de PCR fornece significativas contribuições diagnósticas:

  • Na LEMP, a PCR pode identificar o genoma do vírus JC e/ou BK. A sensibilidade varia de 52 a 93% e a especificidade de 92 a 100%. A PCR positiva, na presença de lesões características à ressonância, define o diagnóstico de LEMP.
  • A identificação do DNA do vírus Epstein-Barr (EBV) no líquido cefalorraquidiano de pacientes com lesões expansivas captantes é altamente indicativa de linfoma primário do SNC.
  • A PCR para Toxoplasma no líquido cefalorraquidiano apresenta uma sensibilidade de cerca de 50%. Contudo, uma vez identificado o DNA desse agente, é quase certo que o paciente tenha Neurotoxoplasmose, visto que a especificidade é bastante alta (96-100%).
  • A PCR para CMV no líquido cefalorraquidiano é o melhor método para identificação de Encefalite por esse agente, com índices de sensibilidade e especificidade acima de 90%.
  • A PCR para M. tuberculosis e C. neoformans é utilizada na investigação de Meningites nesses pacientes.

O líquido cefalorraquidiano na Neuroesquistossomose.

Portanto, a punção lombar e a análise do líquido cefalorraquidiano, aliando procedimentos de segurança, uma análise convencional bem conduzida e o emprego de novos métodos diagnósticos, são fundamentais na avaliação de pacientes infectados pelo HIV e que apresentem anormalidades neurológicas.

O Senne Liquor Diagnóstico realiza punção lombar, respeitando todos os parâmetros de excelência e segurança, e a análise do líquido cefalorraquidiano, incluindo os testes relevantes para o diagnóstico de todas as possíveis complicações neurológicas nesses pacientes.

Confira aqui a lista completa de exames do Senne Liquor.

Bibliografia consultada:

Brew BJ, Garber JY. Neurologic sequelae of primary HIV infection. Handb Clin Neurol. 2018;152:65-74.
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