O LIQUOR (LCR) E AS CEFALEIAS

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A cefaleia é uma queixa muito prevalente e pode ser causada por inúmeras condições. Trata-se de uma causa frequente de atendimentos médicos, tanto em nível ambulatorial quanto em prontos-socorros.

A maioria das cefaleias é do tipo primária, ou seja, não está associada a nenhuma lesão do cérebro ou seus envoltórios, nem é decorrente de disfunções inflamatórias e químicas do sistema nervoso central (SNC). No entando, trazem significativo impacto sobre a qualidade de vida. Em geral, não se associam ao aumento da mortalidade ou sequelas e são diagnosticadas fundamentalmente pela história clínica.

Já as cefaleias secundárias são condições potencialmente ameaçadoras, sendo geralmente necessário o diagnóstico por meio de exames complementares. Dentre eles, destacamos os exames de neuroimagem, exames laboratoriais (p. ex. provas de atividade inflamatória na arterite de células gigantes) e o exame do LCR, imprescindível para o diagnóstico de inúmeras doenças causadoras de dores de cabeça.

Hemorragia subaracnoidea (HSA)

A HSA espontânea é causada principalmente por ruptura de aneurisma intracraniano e está associada a alta mortalidade. O exame de líquido cefalorraquidiano é importante, pois, por vezes, a tomografia inicial não revela a hemorragia. O LCR pode estar normal nas primeiras 2 horas e, após este período, observa-se o aumento de hemácias. Posteriormente, nota-se o aparecimento de xantocromia.

A diferenciação entre punção traumática e hemorragia subaracnoidea pode ser feita com centrifugação e análise do sobrenadante que, no caso da HSA, apresenta-se com xantocromia. A pesquisa de macrófagos hemáticos (com hemácias íntegras, hemossiderina ou a presença de cristais de hematoidina) é outro elemento que indica processo hemorrágico prévio.

Pseudotumor cerebral

É visto com maior frequência em mulheres jovens e obesas. A dor de cabeça é o sintoma mais comum. Papiledema e paralisia do abducente são alterações clínicas que refletem a hipertensão intracraniana (HIC). A ressonância magnética pode mostrar alterações inespecíficas e secundárias à HIC.

O exame de liquor é fundamental para o diagnóstico. Pressão de abertura acima de 25 cm de H20 (28 em crianças) é um critério diagnóstico fundamental. A análise dos parâmetros citológicos e bioquímicos é normal. Investiga-se hoje se a mensuração de marcadores, como adipocinas pró-inflamatórias, pode vir a ser útil no diagnóstico desta entidade. Embora a punção lombar (PL) não esteja incluída nas diretrizes terapêuticas atuais, depois pode haver alívio da cefaleia.

Meningites

Cefaleia e febre são os mais relevantes sintomas das meningites. As mais frequentes são as virais, sendo o enterovírus o agente mais comum. Características citológicas e bioquímicas do LCR auxiliam no diagnóstico.

Um estudo recente publicado pelo Senne Liquor Diagnóstico mostrou que o lactato é o parâmetro liquórico mais eficaz para a distinção de meningites virais e bacterianas. Uma dificuldade no diagnóstico das meningites é que a microscopia tem baixa sensibilidade e a cultura é demorada. Assim, os métodos moleculares têm se mostrado como a melhor alternativa em termos de sensibilidade, especificidade e tempo. O FilmArray® é um método de PCR multiplex que detecta, em até 2 horas, 14 agentes de neuroinfecções, incluindo 6 bactérias, 7 vírus e Cryptococcus.

Leia também: Estudo de caso — Diagnóstico de Meningites Bacterianas com o uso do FilmArray®.

Vasculites do sistema nervoso central (SNC)

Cefaleia é um sintoma frequente das vasculites do SNC. O líquido cefalorraquidiano mostra alterações inflamatórias inespecíficas, como pleocitose linfomonocitária e aumento da proteína. Marcadores de imunoprodução intratecal, como aumento do índice de IgG e presença de bandas oligoclonais (BOCs), também podem ser positivos e devem ser investigados. Nos casos de vasculite secundária, a análise do liquor pode indicar a etiologia ao demonstrar, por exemplo, infecção pelo vírus da varicela zoster ou neurolues, algumas das causas de vasculite secundária e infecções.

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Infiltração neoplásica do espaço subaracnoide

A infiltração neoplásica do espaço subaracnoide pode ocorrer secundariamente a tumores sólidos (carcinomatose meníngea) ou neoplasias hematológicas. A dor de cabeça pode ser um sintoma isolado ou estar associada a outros sinais. A identificação de células neoplásicas no LCR é um elemento fundamental no diagnóstico. Como é examinador dependente, sua sensibilidade e especificidade refletem a experiência do médico que analisa as amostras.

No Senne Liquor Diagnóstico, essa análise é realizada por meio de dupla observação médica. Alterações citológicas e bioquímicas, como pleocitose, aumento de proteína e lactato e hipoglicorraquia, são muito frequentes. Contudo, o exame de liquor pode estar normal, em especial nas neoplasias hematológicas. Nessas doenças, a imunofenotipagem aumenta significativamente a sensibilidade, podendo ser o único indicador da infiltração.

A imunofenotipagem é uma técnica multiparamétrica realizada pela citometria de fluxo. É um método rápido, objetivo e quantitativo para determinação da linhagem celular e análise da maturação das células nas neoplasias hematológicas (leucemias e linfomas). Novos métodos, como a biópsia líquida, deverão aumentar, no futuro, a sensibilidade do LCR nestes casos.

*Conteúdo Exclusivo do Senne Liquor Diagnóstico