O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença autoimune complexa, caracterizada por uma inflamação crônica que pode afetar quase todos os órgãos. Pacientes com essa patologia têm um aumento de duas a seis vezes mais, o risco de infecção e de 12 vezes mais, quanto a taxa de hospitalização, devido a complicações infecciosas graves, em comparação com a população em geral. As infecções são responsáveis por 13% a 37% das hospitalizações e 15,1% a 37,5% das mortes nas principais coortes de LES.
Os fatores associados ao maior risco de infecções em pacientes com LES incluem disfunção de células T e “natural killers”, bem como deficiências de complemento. Além disso, efeitos imunomoduladores dos glicocorticoides, medicamentos modificadores da doença, novos agentes biológicos e outros imunossupressores, como ciclofosfamida, azatioprina, micofenolato e metotrexato (MTX), podem levar a um comprometimento mais intenso de sua função imunológica.
Infecções pleuropulmonares, do trato urinário, da pele e dos tecidos moles são as complicações infecciosas mais comumente relatadas em pacientes com Lúpus. Já as do sistema nervoso central (SNC), embora menos frequentes, estão associadas a morbidade e mortalidade significativas em indivíduos imunocomprometidos com LES. As infecções podem simular os sintomas neuropsiquiátricos da doença, mas requerem um tratamento diferente. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado de pacientes com essas condições é fundamental e qualquer atraso pode resultar em desfechos desfavoráveis.
As informações sobre as características clínicas e a evolução das infecções do SNC em pacientes com Lúpus são limitadas. Uma recente meta-análise avaliou os dados clínicos, laboratoriais e terapêuticos de indivíduos com LES e infecções oportunistas do SNC (Sistema Nervoso Central). As características dessa população estão citadas abaixo:
Síndromes clínicas:
- Meningite (93,5%);
- Abscesso cerebral primário (10,7%);
- Nenhum dos estudos relatou síndromes além das já citadas.
Sintomas e sinais na admissão
- Cefaleia (90,4%);
- Febre (89,0%);
- Náusea ou vômito (53,1%);
- Sinais meníngeos (49,4%);
- Estado mental alterado (49,5%),
- Crise epiléptica (28,4%);
- Déficits neurológicos focais (19,5%).
Patógenos
Estes foram identificados em 158 dos 209 pacientes com infecções do SNC, sendo eles bactérias (61,3%), fungos (36,4%), vírus (n=2) e parasitas (n=1). Os agentes individuais foram C. neoformans (35,9%), M. tuberculosis (27,1%) e Listeria monocytogenes (17,4%). Já Streptococcus pneumoniae (n=6) e Nocardia asteroides (n=4) foram os agentes causadores mais comuns.
Além dos quadros infecciosos, as manifestações neurológicas associadas ao LES são:
- Meningite asséptica;
- Doença cerebrovascular;
- Síndrome desmielinizante;
- Cefaleia (agravamento da enxaqueca ou causada pelo LES);
- Distúrbio de movimento;
- Mielopatia;
- Crises epilépticas;
- Estado confusional agudo;
- Transtornos neuropsiquiátricos (transtorno de ansiedade, disfunção cognitiva, transtorno de humor e psicose).
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O líquido cefalorraquidiano no LES
Os principais achados do líquido cefalorraquidiano (liquor) no Lúpus, sejam complicações próprias da doença no SNC, sejam infecciosas, estão descritos abaixo:
Pressão de abertura | Celularidade | Bioquímica | Microbiologia convencional | Testes imunológicos | Biologia Molecular | Pesquisa de imunoprodução intratecal | |
LES | Normal ou aumentada | Em geral, pleocitose leve | Alterações inespecíficas, com aumento leve de proteínas, podem ser encontradas | Negativa | Anticorpos antinucleares podem ser detectados no liquor | NA | Presença de bandas oligoclonais em 20-30% dos casos |
Complicações infecciosas | Aumentada | Pleocitose variável, dependendo do agente | Aumento de proteína. Pode haver hipoglicorraquia e aumento do lactato, a depender do agente. | Pesquisa direta e culturas para bactérias, fungos, parasitas e TB devem ser realizados | Pesquisa de antígenos (Crypto) e anticorpos (p. ex. HIV e VDRL), a depender da suspeita. | Pode ser feita PCR voltada para o agente ou painéis. | Pode haver presença de BOCs em certos casos de encefalite. |
Bibliografia consultada:
- Molooghi, K., Sheybani, F., Naderi, H., Mirfeizi, Z., Morovatdar, N., Baradaran, A. (2022). Central nervous system infections in patients with systemic lupus erythematosus: a systematic review and meta-analysis. Lupus Science and Medicine, 9(1):e000560. doi:10.1136/lupus-2021-000560
- Carrión-Barberà, I., Salman-Monte, T.C., Vílchez-Oya, F., Monfort, J. (2021). Neuropsychiatric involvement in systemic lupus erythematosus: A review. Autoimmunity Reviews, 20(4):102780. doi: 10.1016/j.autrev.2021.102780.